Riesling, a uva camaleoa do novo e do velho mundo dos vinhos
É sempre com muito prazer e entusiasmo que falo e penso sobre o mundo do vinho. Tamanho é o desafio em desenvolver uma analogia entre dois universos: vinhos e filmes. Em mim despertou um efeito como a ressonância de uma brisa de desafio intensa com esse convite para escrever essa coluna, mas espero que apreciem o texto, saboreiem e degustem da melhor forma as sugestões que aqui faço.
Casa de Areia e o frescor de Riesling
Casa de Areia, dirigido por Andrucha Waddington em 2005, com as Fernandas: Torres e Montenegro. Pelo fato das atrizes terem suas múltiplas personagens, cronologicamente falando, faço aqui o meu paralelo com a Vitis Vinifera (espécie de uva usada para produção de vinho).
Riesling é uma uva de colheita mais tardia se comparada com as outras. Não importa a região, é a tendência dessa espécie entre as uvas brancas. É uma fruta que apresenta diversas personalidades conforme a região de procedência, o estilo do enólogo, o tempo de maturação e onde é realizado (em barril de madeira ou aço inox), último processo antes do vinho ser engarrafado. Por essa enumerada especificidade da uva Vitis Vinifera Riesling é que a considero como uma camaleoa do universo vinífero. Essas variações que acontecem nessa mesma uva são tão incríveis como os jogos que assistimos entre duas Fernandas atuando distintamente as personagens que interpretam em períodos diferentes do filme.
O longa narra a vida de uma família que deixa a capital do Maranhão e se aventura a viver o sonho do marido (Ruy Guerra) no deserto em Lençóis Maranhenses. Fernanda Torres é a esposa que contra vontade segue o marido em seu sonho. Depois de seu esposo morrer em um acidente, ela, grávida (Fernanda Torres) e sua mãe (Fernanda Montenegro) precisam se defender em um deserto inóspito. Passam a ser amigas de um morador local (Luiz Melodia) e com a ajuda dele, estabelecem uma casa modesta. A gravidez deu vida à mais nova, Aurea, que sonha em fugir, enquanto a mais velha, Dona Maria, aprende a aceitar seu destino.
Como a uva Riesling passou por momentos difíceis de sua existência anos atrás e, que aos poucos esse vinho branco tem sido entendido com as suas variações, acredito que no Brasil vai cair na graça do paladar dos consumidores como aconteceu aqui em New York. Do seco ao doce, com nuances em especiarias ao frescor do cítrico, do sabor de frutas cítricas, brancas como as maçãs às frutas amarelas como o pêssego, assim o Riesling tem cativado o apreciador de vinho.As regiões alemãs de Mosel, Nahe e Pfaz produzem vinhos brancos de uva Riesling com tipicidade muito diferentes: de seco ao doce em diferentes níveis de doçura. Assim, com contraste, encontramos na Austrália, os vinhos derivados dessa mesma uva, porém mais secos como na América do Sul, no Chile e até em algumas partes do Brasil como Campanha gaúcha e Santa Catarina - regiões mais frias no Brasil, onde os vinhos são mais secos que em outras regiões brasileiras.
Aqui, em New York, em Oregon e em Washington, Riesling tem características no paladar como um mineral frescor e seco. Outro estilo do vinho Riesling acontece na Nova Zelândia que têm aromas e sabor com um tom mais tropical como da região da Serra Gaúcha no Brasil. Já a região da “menina dos olhos de ouro” foi a Itália.
Ao comparar a uva com filme, faço uma referência ao momento em que a personagem mais nova dessa família, conseguiu eventualmente sair daquela região tão odiada e amada, em alguns momentos. O vinho branco italiano Riesling é de uma personalidade única e incrível no paladar. Seco com um bom equilíbrio de acidez e textura. Com um final longo e refrescante.Acredito que o final do filme tenha essa mesma descrição que coloco aqui. Então, vai lá conferir o vinho branco Riesling e caso não tenha assistido Casa de Areia, assista. O trabalho é de uma produção, direção e fotografia espetacular.
-Tchin, Tchin!