Vento Seco, de Daniel Nolasco é um filme autoral e sem medo de transitar entre o sonho e a realidade. Em julho, o vento seco e a baixa umidade do ar ressecam a pele dos moradores de uma pequena cidade no interior de Goiás. Sandro (Leandro Faria Lelo) divide seus dias entre o clube da cidade, o trabalho, o futebol com amigos e as festas locais. Ele tem um relacionamento às escondidas com Ricardo, seu colega de trabalho. Mas a sua rotina começa a mudar com a chegada de Maicon (Rafael Theóphilo), um rapaz que desperta o seu interesse e do qual todos sabem muito pouco.
O roteiro e a direção de Nolasco fogem às construções comuns e, criticadas
em filmes LGBTQIA+, que tentam castrar personagens para que possam encontrar um
amor/sexo idealizado de contos de fadas. Vento Seco tem sungas volumosas, corpos de
homens suados, línguas que fogem da boca, sexo oral e penetração.
Cenas de sexo, as quais eram comuns nos 80 no Cinema da Boca do Lixo,
“chocam” espectadores muitas vezes e questionam se determinadas cenas são
necessárias. Pensando por esta perspectiva, por que filmes com nudez feminina
não incomodam? Por quê o nu frontal masculino gera tanto desconforto?
Barbas, bigodes, botas de couro, jaquetas e músculos nos fazem embarcar no
desejo de Sandro, ou até no nosso próprio desejo. Os figurinos e cenários colaboram
para o universo imagético da produção. Luzes neon em tons de rosa, vermelho, cor de
laranja e vermelho criam uma atmosfera de artificialidade associada à brilhante
direção de fotografia de Larry Machado. Nada é gratuito em Vento Seco.
As relações sexuais descompromissadas e fantasias nada tem haver com falta de afetividade e tal narrativa mostra a ousadia de ir na contramão de outra produções LGBTs. Nas cenas em que Sandro relata à amiga Paula, (Renata Carvalho, protagonista de peça teatral Jesus, Rainha do Céu) um sonho que teve sem dar muitos detalhes percebemos certa cumplicidade. E mais tarde, o carinho entre Maicon e o
protagonista ao segurarem um a mão um do outro.
Daniel Nolasco entrega um filme ousado, que tira personagens do lugar comum e estabelece um vínculo com o espectador no desenrolar da sua narrativa. Na
trilha tem canções de Thiago Petit, Maria Bethânia.