Quem nunca tentou se separar amigavelmente? Umas vezes funciona, outras nem
tanto. Marriage Story, de Noah Baumbach, produção da Netflix, apresenta um plot
que pode ser definido em uma única linha – um casal tenta se separar amigavelmente, mas não por isso menos instigante.
Lembro de ter visto o filme em Veneza. O longa foi aplaudido quando o logo da gigante do streaming apareceu na tela aqui em Lido e não parou por aí – Foi bastante aplaudido nos créditos finais, situação bastante diferente vivenciada pelo diretor em Cannes em 2017, na estreia de The Meyerowitz Stories (New and Selected), que foi vaiado quando o logo da Netflix surgiu na tela.
“A minha separação serviu como preparação para as filmagens”, contou
Scarlett Johansson na coletiva de imprensa. Ela e Adam Driver estrelam o filme.
A direção de Baumbach transporta o espectador para as vidas de Charles e Nicole que tem como caminho certo o divórcio. Ninguém é pego de surpresa, exceto Charles (Driver), que é
comunicado através de uma das cenas mais hilárias do filme, que passa próximo ao
grotesco, mas devido a direção assertiva, leva às gargalhadas. As brigas e dialogos
agridoce permitem ao espectador se entregar às linhas escritas pelo diretor e se
enveredar por elas. Afinal de contas, quem nunca tentar se separar de maneira
amigável, certo?
Em meio a separação está Henry, o filho de 8 anos do casal. Ele, diretor de teatro. Ela,
atriz. A vida dos dois vai tomando outros contornos. Ele quer continuar ganhando a
vida Nova York com sua companhia de teatro, da qual Nicole faz parte. Ela quer passar
mais tem Los Angeles na companhia de sua mãe e da irmã e dedicar-se mais ao
trabalho de atriz e, independente de Charles.
Nos personagens Charles e Nicole os gêneros são desconstruídos, diferente do que é
apresentado no cinema americano. Ele gosta de ser pai, levantar durantes as
madrugadas para cuidar do filho. Ela é extremamente desorganizada e pragmatica.
Aos dois , a separação traz sofrimento. É interessante notar como Baumbach trabalha a
serviço da descontrução de gêneros em sua narrativa. Na frente da tela, homens se
identificam com o Nicole, e mulheres que se espelham a Charles. E vice-versa é
também possível.
Baumbach não é inexperiente na direção e nem no roteiro. Em The Squid and the
Whale (2005) e Frances Ha (2012), estrelado por Greta Gerwig, sua atual esposa, se
mostra como um roteirista de peso. O diretor também trabalhou diversas vezes com
Wes Anderson. O roteiro The Life Aquatic with Steve Zissou (2004) pauta a habilidade
do nova iorquino em criar histórias e fazer com que nós esperemos pelo tempo
necessário de desenvolvimento da narrativa.
A perfomance de Laura Dern, como a advogada Nora, que representa Nicole é quem
tempera o drama com pitadas cômicas e irônicas. É ela que aconselha Nora e coloca
Charles em situações que faz com que a trama cresça e tome cada vez mais forma. A
personagem arranca risos do público quando exemplifica que em um caso de
separação, na briga pela guarda do filhos um homem não precisar ser perfeito, mas a
mulher precisa ser exemplar. “Jesus foi concebido por Maria, mas ela permaneceu
virgem. Já Deus fazia o seu papel de pai lá do alto”, diz a personagem.