Figura importante no cinema contemporâneo e um dos principais nomes do Novo Cinema Argentino, Lucrécia Martel é convidada de honra e receberá prêmio honorário na 54ª edição do festival Visions du Réel em Nyon, na Suíça. Martel recebe o prêmio das mãos da diretora Céline Sciamma (Portrait of a Aldy on fire, 2019), seguida da exibição de La ciénaga. A realizadora argentina também ministrará uma master class no dia 24 de abril, que irá explorar o seu corpo de trabalho e a sua relação com a realidade. Uma retrospectiva dos seus filmes será apresentada durante a edição.
A cineasta ganhou fama internacional com o primeira longa-metragem La ciénaga (2001), rodado na sua cidade natal, e desde então encarnou o ressurgimento do filme argentino, tanto a nível nacional como internacional. A filmografia da realizadora, que consiste em 4 longas-metragens e 25 títulos no total (incluindo mais diversos projetos), tem marcado constantemente o seu país num contexto pós-ditatorial e sido apresentados em diversos festivais de cinema.
Os filmes de Lucrecia Martel utilizam uma gramática cinematográfica altamente sensual para examinar a crise existencial da classe média argentina, o funcionamento interno da sociedade e o mecanismo social sufocante do país, bem como as questões pós-coloniais. Martel consegue tudo isto enquanto evoca incessantemente, implicitamente, a história do seu país e os fantasmas que o marcam e habitam. Depois do Terminal Norte em 2021, ela está trabalhando em novos longas-metragens de não-ficção que deverão ser lançadas em 2023.
Retrospectiva Lucrecia Martel no festival
Camarera de Piso (2022)
O trabalho de Patri é interrompido por seu telefone tocando. Mensagens e vozes giram em torno de sua cabeça, fazendo com que ela perca o controle da realidade. A diretora faz um relato coreografado de classe e violência conjugal, nos conduzindo através de um turbilhão provocador de ansiedade dos sentidos nesse curta metragem.
Terminal Norte (2021)
Durante o encerramento de 2020, Lucrecia Martel regressa à sua região natal de Salta, no norte da Argentina. Lá, ela segue a cantora de tango Julieta Laso que se junta a uma comunidade de artistas feministas e dissidentes que se reúnem no coração da floresta.
Zama (2017)
Don Diego de Zama, um apático colonizador em algum lugar distante da América Latina, aguarda impacientemente sua partida. Representando uma colônia distópica afundando em desilusão o trabalho reescreve a história colonial neste filme flamboyant do período. Último longa de Martel foi apresentado em diversos festivais e considerado o queridos por muitos críticos.
Leguas (2015)
Tanto na escola como nos campos, os ricos barões da terra espalham o terror entre as comunidades indígenas. Neste clima hostil, jovens gerações de nativos argentinos lutam para encontrar seu lugar. O curta explora com perspicácia os desafios relacionados com a transmissão da história colonial e a violência perpetrada pelo sistema educacional.
La mujer sin cabeza (2008)
A terceira longa-metragem de Martel, rodada na sua Salta nativa, estrelou Vero, uma mulher assolada pela confusão. Distraída enquanto dirigia, ela pensa ter atropelado alguém. Tudo o que ela vê na berma da estrada é um cão morto. Ancorado num contexto político poderoso, o trabalho reflecte sobre os mecanismos de negação e destaca as formas que a dissolução da responsabilidade pode assumir.
La niña santa (2003)
Amalia está sentindo os primeiros tremores da adolescência. Criada em um ambiente devotamente religioso, seus desejos emergentes lutam com sua fé. Depois de uma agressão sexual, ela se atribui a perigosa missão de salvar o homem culpado de seus impulsos. O filme foi apresentado na mostra competitiva em Cannes e recebeu menção especial no festival de cinema de Reykjavík, Islândia e premio da crítica na Mostra Internacional de cinema de São Paulo.
O Visions du Réel Film Festival de Nyon acontece de 21 a 30 de abril de 2023.