Dono do título “Papa do Trash”, o excêntrico e transgressor John Waters, recebe um
prêmio pelo conjunto de sua obra no 72º Locarno Festival, na Suíça. O diretor,
roteirista e ator é foi convidado de honra para a exibição à céu aberto de seu longa Cecil
B. DeMented (2000), na nova mostra “Crazy Midnight“, na Piazza Grande, que tem
capacidade para 8 mil pessoas.
Figura de irrefutável importância para o cinema independente, Waters se encontrou
conosco em um hotel em Locarno para falar de cinema, indústria de filmes, arte e
futuro do cinema. Além de entender o que significa mau mau gosto
“É estou extremamente excitado para esse premio em Locarno. Não é ironia. Eu
estou, de fato, animado. Eu tenho feito isso por 50 anos. É assustador ver que eu
não mudei tanto” diz o diretor. Assim começa a entrevista que se seguiu por 40
minutos somado ao bom-humor e aos gestos cuidadosamente elegamente e
compassados do diretor nascido em Baltimore, USA.
Embora a audiência de John Waters no inicio de sua carreira tenha sido muito
especifica, ela foi crescendo com o tempo e se tornando mais ampla. "Meus filmes são
exibidos muito mais hoje do que em suas estreias. Por exemplo, Killing Mama é
muito assistido hoje. Female Troubles, Cry-Baby tem uma audiência que me
chama muito a atenção. Isso depende também das críticas", emenda ele.
Muitos filmes tentam ser grandes comédia de Hollywood e eu simples não gosto deles. Eu
gosto de Hangover, mas não gosto das quinze péssimas imitações dele
Você se surpreende quando assiste aos seus próprios filmes?
Sim, eu fico surpreso pelo orçamento dos filmes. Como eu pude realizar esse
filme?, me pergunto. Fiquei extremamente surpreso que Hairspray foi um sucesso. E fiquei
ainda mais surpreso que todos eles foram hits. Eu sei também que meus filmes
não são para todo mundo. Existe um apelo e eu sempre conheci a meu público. No
começo, os filmes eram para minoria que não se encaixa nas suas própria minorias.
Não começo no era só gays. Gays geralmente odiavam meus filmes.Os criminais que
adoravam.
Eu fui ver Pink Flamingos, aqui em Locarno, e percebi duas mulhers rindo – mãe e
filha. Você já assistiu um dos seus filmes com a sua mãe?
Não! Não. Definitivamente, não… risos. Minhas irmãs sempre diziam nas minhas
estréias “Nós não vamos sentar com a mamãe neste cinema lotado para assistir
isso”. risos. Não, meus irmãos não queriam sentar com meus pais para
assistirem filmes. Eles odeiam . Quando eu vou aos filmes e as viram a cabeça para
não ver. A reação do meu pai era sempre: Foi divertido, mas não não ver esse
filme de novo. Você está me dizendo que ela estava assistindo com a mãe? Muitas
pessoas dizem que os pais os mostraram Pink Flamingos. ” Eles mostraram? Que
tipo de pais você tem? Meus pais jamais me mostrariam Pink Flamingos.”
Ainda falando sobre os seus pais. O que sua mãe disse sobre os título que você tem como Principe do Vômito ou Papa do Trash?
Ela achava engraçado. As críticas que se referiam a isso não eram críticas terríveis.
Elas eram muito boas. Obviamente, tiveram péssimas críticas, mas é assim.
Fiquei extremamente surpreso que Hairspray foi um sucesso. E fiquei ainda mais surpreso que todos eles foram Hits. Eu sei também que meus filmes não são para todo mundo
Você assiste filmes? O que você gosta de ver?
Eu assisto muitos filmes e gosto muito de péssimos filmes europeus. É surpreendedor.
Críticos dizem que algumas produções são “filmes John Waters “, mas não verdade são
filmes que eu odiaria. Muitos filmes tentam ser grandes comédia de Hollywood e
eu simples não gosto deles. Eu gosto de Hangover, mas não gosto das quinze
péssimas imitações dele. Eu ainda assisto filmes, mas gosto mais de filmes de arte. Eu
gosto de Gaspar Noé, Lars Van Trier, Bruno de Dummont. Eu gosto daqueles que
causem problemas.
Vocês faz lista dos melhores filmes do ano, certo?
Sim, eles saem geralmente em dezembro e não em janeiro. Eu voto no Oscar. Eu não
ligo pra como você assiste esses filmes. O importante é assistir. Eu sempre quis ser
comercial e penso que consegui. Estranhamente od filmes sempre foram comerciais.
Alguns filmes eram exibidos em um cinema à meia noite por dez anos. Me parece
bastante comercial.
Existe algum personagem que você mais gostou de escrever ou filmar?
Filmar não é nunca divertido. Eu adoro rever ótimas críticas sobre Divine. Foi
delicioso quando conseguimos estabelecer esse personagem. Foi assustador, mas uma
felicidade. Esse personagem foi monstruoso. O personagem ganhou, de fato, ótimas
críticas em Hairspray, vivendo uma mãe acima do peso, que parece uma mulher. Sem
exagero! Divine não era uma trans. Ele não queria ser um mulher. Ele nunca se vestiu
como uma mulher, exceto por fazer um filme. Ele morreu logo depois de filmarmos,
mas chegou a ler críticas.
No começo da sua biografia você diz que se tornou respeitável. Como você se
sente?
Eu me sinto bem. Eu fiz uma piada no livro, mas é ótimo se sentir respeitado. O ruim é
ser respeitado já primeira coisa que você faz. Porque assim não tem escalada para o
sucesso, não tem para onde ir. Você consegue somente desapontar se a primeira
produção é extremamente aceitável e não causa problemas. E aí, te contratam por um
super salário para ir para Hollywood por 100 Milhões de dólares e fazer um filme de
super herói. Você não sabe para onde ir. E se não atender as expectativas você é
demitido e sua carreira acaba. risos… Ser respeitado me faz sentir bem, porque nunca
mudei minha carreira. Os mais jovens devem errar, tentar. Só tem que descobrir
como. É saber negociar e também aprender sobre o mercado que você está entrando. É
extremamente importante. Muita gente diz: “Eu não ligo para o mercado. Você
aprende, melhora. E se você falhar e aí como você faz?
Existe uma tendência de improvisação nos filmes. Quando vejo seus filmes, não
acredito que atores improvisem…
Não. Eu odeio isso! risos… “Você é escritor? Diga o texto!” Alguns dizem: “Eu simples
mudei o script para deixar do meu jeito.” Pergunto:”O que você disse?” gargalha… Eu
odeio isso. “Diga o texto que eu escrevi!” Não, não, eu não aceito improvisação. Com a
excessão se você for Andy Warhol, Mike Leigh. Tudo que nós mudamos, fazemos
durante o ensaio. Eu não sou maluco. Sei quando as coisas não estão funcionando . É
possível mudar. Eu mudo algumas vezes. Ultimamente atores dizem: “Não, eu quero
fazer do meu jeito”. Eu nunca tive um ator que fizesse isso, mas eu sei que alguns
atores fazem isso. “Você quer improvisar, então se torne um escritor e escreva seu
roteiro.“
O seu gosto por arte e filmes mudou?
Não, não acho que meu gosto mudou. Eu gosto de B Movies, gosto de underground
Movies. Eu gosto de filmes que causam problemas. Não acho que meu gosto mudou. Se
pegarmos as primeiras lista que fiz com dez melhores filmes, eles são necessarias.
Você segue as tendências do que é feito na indústria audivisual?
Sim, você tem que fazer isso para ter fazer um filme. Justin Bieber não assiste meu
filmes, mas eu realmente gosto dele. Nós estivemos juntos no The Graham Norton
Show e desenhou meu bigode. Os paparazzi ficaram enlouquecidos quando isso
aconteceu. Nós estávamos em todos os jornais de Londres. Eu desejo que ele não
tivesse sido sequestrado pela religião. Eu gostava quando eu não era sentimental e
tinha histórias para contar. risos… E ficando nú. Ele estava sempre pelado. risos…
Pensando em política e arte. O que você sente quando…
Eu entrei nesse coisa anti-Trump. Eu acho que ele depila o c*. Eu acho ótimo que eu
vivo em um pais que é livre o suficiente, onde eu posso falar o que eu penso. Vamos
ver o que acontece. Acho que ele vai ganhar de novo. As pessoas gostam disso. Os
democratas são tão fracos. Não é divertido.
Você acredita que precisamos de mais filmes como os seus?
Eles não são mais feitos. Eu não sei aqui na Europa, mas o mercado de filmes de arte
está muito mal em Nova York. Nos Estados Unidos, os jovens não querem esse tipo de
filmes. Eles querem ver filmes extremamente comerciais. O mercado não está em
ótima forma. As pessoas ainda vão ver filme de arte, mas pessoas mais velhas. Pelo
menos né o público que vejo nos filmes que eu gosto.
Você concorda que os filmes também são consumidos/produzidos para
plataformas online. O que você acha dessa nova possilidade de ver filmes?
Eu sou a primeira pessoa que diz “Sim” quando eu vou fazer um filme. Risos… Não faz
diferença se o filmes vai ser assistido em casa, no cinema. A primeira coisa que Netflix
produziu foi meu show This Filthy World (2006). É completamente diferente do que
eles estão fazendo hoje em dia. Eu não sou contra. Eu sei que em Cannes, os filmes da
Netflix não são exibidos. Eu não sei a minha resposta para isso. Essas as mesmas
pessoas que não viram Uber vindo. Eles foram preguiçosos em parar isso. Como eles
permitiram Airbnb acontecer? Eles culpam Airbnb e o Uber, mas eles não contraatacaram.
Eles deveriam ter percebido antes. Foram, de certa maneira, preguiçosos.
Vamos falar sobre Pecker?
Eu acho que Pecker é um filme legal. O mais legal, talvez. (Conversa é interrompida.
Garçom entra para servir café à John Waters café.) Oh, Desculpe tomar café na sua
frente. Terrível! risos…Eu gosto do mundo da arte. Eu sou contra arte para todos. Acho que é uma ideia terrível. Risos… Eu adoro que você tem que vestir um outfit especial, que você tem que aprender a a falar e você tem que aprender a ver diferente. É um caminho mágico que
outras pessoas não podem. Por essa razão eu fiz um exposição ”A Arte Contemporânea
te odeia”. Ela odeia mesmo. Mas vamos falar de Pecker. Pecker me veio como ideia…
como esses se sentem após ter vendido suas fotos por 2 milhões de dólares para
Sothebys. Isso me deu a ideia. Pecker não era como eu era. Eu não era inocente. Ele é
um artista outsider, de uma certa maneira. Eu gosto do mundo da arte. Eu faço piadas
com coisas que eu gosto. Em Marfa (Texas), os visitantes achavam que eles estavam
seguros. Porque não tinha pessoas negras no Museum. O que eu acho estúpido e
divertido ao mesmo tempo. Eu acho que real arte pode ser divertida. Eu tinha uma
obra de arte. Era uma flor que peguei de como referência de um filme meu. Pense na
Monalisa, que você vê no museu. Ela também cordão de isolamento, alarme e etc. Eu
tinha essa flor que espirra água e as pessoas se molhavam. Os guardas amavam. Eles
diziam que era o melhor trabalho que eles ja tiveram. Risos… Eu amo isso. Em outro
museu eles me deixaram fazer uma instalação. Era uma a garagem que quando eles
adentravam tinha som de carros que iriam bater, geralmente, as pessoas gritavam. Eu
um parede com um quarto instalamos Glory Holes. Chamada de intervenção na
arquitetura.
Como foi o trabalho com Johnny Depp em Cry- Baby?
Foi ótimo. Ele tem um trabalho de ator incríevel. Eu conheci Johnny quando ele já
estava com a Winona Ryder. Eu convenci o Johnny a a não se casar com Winona. Não
porque eu não gostava dela ou coisa assim. Ela era muito jovem. Os pais delas me
agradeceram. Eles se conheciam há quatros meses. Nós mantemos contato. Eu fiz o
novo álbum de Johnny para o Hollywood Vampires.
Brad Pitt também disputou o papel...
Quando vimos o Brad Pitt já sabíamos quem ele se tornaria, mas ele não poderia ter a
energia que Jonny Depp em Cry-Baby. Ele é bonitinho e fofinho. Nós sabíamos disso e
pensamos ” Quem é esse? Essa pessoa pode ser uma estrela do cinema.” Ele é um ótimo
ator. Você viu o novo filme do Tarantino? Ele está ótimo.
Quem são os atores que você admira ou que gostaria de trabalhar?
David Lynch é incrível. Seu últmo show na TV ótimo. Eu diria “Brand Renfro“… risos
Como você reage quando as pessoas dizem que você é um pioneiro de traz
genero?
É tão confortável. Eu amo isso.. risos
Você sempre fala sobre mau gosto? Qual é a definição de mau gosto?
Existe bom mau gosto e mau mau gosto. Mau mau gosto é Trump. O jeito que eles
decoram a Casa Branca… se parece Jeff Koons mas sem a conhecimento de arte ou sem
inteligência. Isso é mau mau gosto. Bom mau gosto seria Jeff Koons. Seria exatamente
o mesmo se Jeff Koons tivesse feito isso seria bom mau gosto… Atitude e inteligência
atrás disso. Eu o conheço. Ele estava Maryland Institute College of Art quando
estávamos filmando Pink Flamingos. Minha história favorita, é quando minha mãe e a
tia dele estava na mesma comunidade de aposentados e ficavam dividindo história no
qual tinha situações embaraçosas. “Oh, God! Temos mesmo que falar isso?” Elas riam,
mas comentavam toda a humilhação que tiveram que passar devido nossas estreias.
Era divertido…
Certa vez, você disse que não existe coisa mais deprimente do que um biblioteca de
livros não lidos…
Sim! Nada é mais deprimente que uma coleção de livros não lida. Minha livraria tem
uma seção que ainda quero ler. Eu leio todos eles. Eu não posso imaginar um mundo
sem livros. É assim que eu relaxo. Não é a TV. Eu amo Get Out. Nós não estamos
tentando rir o tempo todo. Eu acho muito divertido por os liberais são os perigosos, Eu
realmente gosto de
. São definitivamente os nossos filmes de terror.