O filme Levante, da diretora Lillah Halla, tem como tema central o aborto e foi extremamente bem recebido na estreia ontem, 22, na Croisette. O longa está na Semana da Crítica em Cannes e concorre com outras 6 produções da Bélgica, Coréia do Sul, Malásia, Jordânia e Sérvia e está entre os nomeados à Palma Queer.
Sofia é uma promissora jogadora de vôlei de 17 anos e fica sabendo que está grávida na véspera de um campeonato que poderia selar seu destino. Sem vontade de prosseguir com a gravidez, ela procura um aborto ilegal e se vê alvo de um grupo fundamentalista determinado a impedi-la a todo custo. Mas nem Sofia e nem seus familiares pretendem se submeter ao fervor cego das massas.
É impossível não tomar como referência as tentativas de políticos de alta escalão que fazem o possível para intervir no direito de interromper uma gravidez resultada de uma violência sexual, mas que torna o filme potente é o fato de Sofia não ter sido violentada e decidir não prosseguir com a gestação.
A protagonista Sofia, interpretada por Ayomi Domenica Dias, entrega uma personagem cheia de camadas: vontades, medo, coragem e desejos. Um dos pontos altos no longa são as personagens negras, gordas e de diferentes orientações sexuais que compõem uma narrativa sem necessidade de explicação por estarem trama, o que ganha em profundidade e humanidade no enredo. A grande atriz Grace Passô na pele da treinadora Sol, mas infelizmente com pouco tempo de tela.
Um trajeto de sete anos
O projeto que levou sete para ser finalizado e embora o filme seja o primeiro longa-metragem da realizadora, essa não é a sua primeira vez em Cannes. Seu curta Menarca (2020) foi exibido na mostra de curtas da Semana da Crítica e participou do programa Next Step que orienta cineastas de curtas-metragens selecionados para a competição.
O Next Step é um workshop de uma semana realizado na França em dezembro. Durante a imersão os participantes têm a oportunidade de discutir seus projetos com especialistas e tutores internacionais para que possam ser aconselhados sobre seus roteiros, para entender a realidade do setor e definir a estratégia correta de desenvolvimento para o primeiro longa-metragem.
O filme coloca o Brasil em destaque na indústria do cinema e aparenta ter promissoras exibições nos festivais. A produção diversa exibe uma gama de personagens em seus muitos corpos e que coloca as mulheres num recorte também racial contando suas histórias na luta por direitos.