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Humberto Moureira

Cannes: “BlacKkKlansman” de Spike Lee éovacionado por 10 minutos


Definido por diversos colegas jornalistas em Cannes como “um dos melhores trabalhos

entregues em anos”, BlaKkKlansman, de Spike Lee desembarca na Croisette.


Quebrando protocolos do festival Lee chegou trajando Nikes (um branco e um preto)

com o título do filme. Para recapitular anos passados; Lee era aposta para a Palma de

Ouro em 1989, com Do the Right Things, mas quem arrematou o prêmio máximo em

Cannes foi Steven Soderbergh por Sex, Lies and Videotapes. Não é novidade alguma

que o diretor se mostrou desapontado com o presidente do júri, Wes Wenders, que

neste ano apresenta o documentário Pope Francis – A man of his word, exibido fora de

competição.


O novo trabalho de Lee arranca aplausos e risos da plateia. Com um elenco afiado, cheio de ironias e diálogos racistas que causam náuseas, o longa é uma espécie de ilustração da sociedade que ganha contornos vibrantes associados à trilha sonora, figurino e cenários em cores vibrantes. Nos diálogos protagonizados por Ron Stallsworth (JohnDavid Washington), um jovem negro do Colorado Springs que almeja se tomar policial, ocorre não só uma redenção de pessoas (atores) negras, mas uma reflexão –no spoilers!.


Após atingir seu objetivo já nos primeiros minutos do filme, por meio de

humilhações no departamento de arquivo, o jovem encontra motivação e

encorajamento até se tomar agente secreto infiltrado em uma operação da Ku klus

Kan.


O filme ganha densidade nas narrativas paralelas “Poder Negro” e “Poder

Branco”. A história se passa nos anos 70 e tem tom de premonição da futura

era Trump e todas as vezes que em diálogos ou frases como “Vamos fazer a América

ótima outra vez” ou “América no primeiro lugar” é impossível não pensar no

presidente da terra do Tio Sam e, a platéia reag e aos risos e aplausos, como é esperado.


Cenas que jamais seria produzidas pelo teor racista, através do trabalho e do olhar de

Lee se tornam extremamente poderosas e ferramentas para discussão. O diretor não

poderia ter sido mais claro em seu posicionamento como artista. Também fazem parte

do elenco Adam Driver e Topher Grace. O longa foi ovacionado por 10 minutos, ou

seja, até o final do créditos.


BlaKkKlansman impressionou os críticos em Cannes, mas o filme

ainda enfrenta Cold War, de Pawel Pawlikoswki, Ash is Purest White, de Zhao Tao

e Leto, de Kiril Serebrennikov e 3 Faces, de Jafar Panahi na corrida pela Palma de

Ouro. A cerimônia de encerramento acontece no dia 18 de maio.

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