Depois de Roma, de Alfonso Cuarón, arrematar três estatuetas na cerimônia do Oscar, o cineasta Alejandro Gonzáles Iñnaritú foi anunciado presidente do júri no 72º festival internacional de cinema de Cannes. O diretor é o primeiro mexicano a ocupar a posição na Croisette. Os mexicanos estão derrubando muros.
O realizador mexicano tem uma relação de quase 20 anos com o festival francês. Em 2000, ele recebeu o grande prêmio na Semana da Crítica (mostra paralela) por Amores Perros, que revelou o ator mexicano Gael Garcia Bernal. Com este primeiro filme, foi dado inicio a trilogia composta por 21 Gramas, com Sean Pean, Naomi Watts, Benicio Del Toro e Charlotte Gainsbourg no elenco, mas foi terceiro filme, Babel, estrelado por Brad Pitt, Cate Blanchett e Bernal, que o rendeu o prêmio de melhor diretor em Cannes, em 2006 e, melhor drama no Globo de Ouro, em 2007.
Naquele ano, o realizador toma um outro rumo na direção – adota uma narrativa linear, menos visceral e um tanto elegante em Biutiful, que premiou Javier Bardem em Cannes como melhor ator. Já em 2014 em Birdman, associado a perfomance de Michael Keaton, no papel de Riggan Thomson, um ex-super herói, conduz o espectador por uma narrativa que se passa em 48 horas. O longa recebeu o Oscar 2015 por melhor diretor, melhor filme, melhor roteiro original e melhor fotografia, Globo de Ouro por melhor roteiro e melhor ator em filme musical ou comédia para Keaton, além de um César para melhor filme estrangeiro.
Com The Revenant, 2016, utilizando luz natural e uma câmera que tinha como objetivo atingir uma experiência 360 graus, o diretor arrematou Oscars de melhor diretor e melhor fotografia, e (finalmente!) um Oscar de melhor ator para Leonardo di Caprio (que estava sempre presente na cerimônia, mas nunca ganhava). Também recebeu BAFTA de melhor filme, melhor diretor e Di Caprio como melhor ator além de Globos de Ouro nas mesmas categorias.
No 70º Festival de Cannes foi possível ver Carne y Arena, um trabalho em VR de Iñárritu, que mostrava a trajetória de refugiados mexicanos que tentavam uma vida no EUA. O filme imersivo fez tremendo sucesso e já no segundo teve os ingressos esgotados. O filme-exposição seguiu para a Fondazione Prada, em Milão, onde pôde ser visto em junho de 2017 e também apresentado no Los Angeles County Museum of Art (LACMA). O trabalho foi comtemplado com um Oscar especial no mesmo ano.
Embora os mexicanos tenham derrubado muros, uma parede que parece ser impossível de demolição é a situação Cannes e a Netflix. O diretor artístico de Cannes Thierry Frémaux e o diretor de conteúdo da Netflix Ted Sarandos tem se encontrado para buscar uma solução referente aos possíveis filmes da plataforma que poderiam ser (e se vão) se exibidos no festival. The Irishman, de Martin Scorsese é uma produção da gigante do streaming estrelada por Robert de Niro, Al Pacino, Joe Pesci e Harvey Keitel. Se o filme não tiver estreia na Croisette, Veneza e Toronto já estão com olhos bem abertos e certamente na disputa pela estréia de Scorsese. O que Iñarritu pensa a respeito da gigante do streaming em festivais? É esperar para ver as águas rolarem.