Cobain, sexto filme de Nanouk Leopold, faz estreia na mostra Generation, no
Berlinale. A mostra paralela é dedicada ao público jovem. O novo trabalho da diretora
passeia sob a trajetória do jovem de 15 anos, o qual é filho de mulher viciada em heroína. No drama, o não ator Bas Keizer, precisa crescer mais rápido do que
maioria dos adolescentes e inverter os papéis. Ele circula pelo submundo holandês
com o objetivo de cuidar da mãe que está grávida.
Marcado pela jovialidade e inexperiência de Cobain, o longa apresenta uma explosão
de cores com predominância em verde e vermelho. Por momentos, o protagonista veste uma jaqueta verde, a iluminação da rua é vermelha ou a cenografia traz elementos nas duas cores, onde é possível perceber o estado psicológico dos personagens. “Eu queria fazer um filme com mais cores. Meu último filme [It’s All So Quiet, 2013] era cheio de nuances de cinza e azul. Era a história de um homem que estava prestes a morrer”.
Para seleção do protagonista, Leopold viu mais 500 garotos até decidir por Keizer. Ela
conta: “Nós o vimos na frente da escola fumando … nem deveria falar isso, pois os pais
dele não sabiam que ele fumava… Ele tem essa mistura da transição de menino e de
homem e que era exatamente o que estávamos procurando.”
A trajetória do adolescente é marcada pelos encontros e desencontros com mãe, Naomi Velissariou, que entrega uma personagem convincente e que equilibra com
maestria a ternura e agressividade em pontos-chave no longa. Um dos pontos altos do
filme é a relação aprendiz-funcionário-faz-tudo entre Cobain e o cafetão Wickmayer, Wim Opbrouck, que também atuou em It’s All So Quiet.
O roteiro de Stienette Bosklopper traz elementos relevantes e bem delineados na narrativa. A cena em que Cobain descobre que a prostituta Adele,
Dana Marineci, não repassa o dinheiro para Wickmayer carrega diversas sutilezas e
muita leituras. É o momento em que o adolescente decide subornar a garota de
programa. Fica clara a impulsividade de um jovem que barganha o que ainda não tem. Eles estão em um quarto de hotel quando o jovem usa maquiagem e tem sua primeira relação sexual – é uma mistura de curiosidade, imaturidade, é uma situação quase absurda e, que mostra o quanto Cobain ainda é um menino.
Levando em consideração que que o mocinho busca ajudar a mãe que está grávida, são várias as possibilidades do que pode acontecer durante a trajetória do jovem. Algumas
escolhas são óbvias, mas isso não torna o filme desinteressante.
O longa está na corrida pelo Urso de cristal com outros quinze filmes, entre eles o
brasileiro Unicórnio, de Eduardo Nunes que conta com Patricia Pilar no elenco.